BNB terá mais de R$ 50 Milhões para Microcrédito

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Os novos recursos elevarão volume total do banco destinado à modalidade para quase R$ 90 milhões

Salvador. Uma parceria inédita, fechada em maio deste ano, entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), vai possibilitar que o primeiro dobre sua capacidade de atuação em termos de microcrédito orientado e produtivo na região nordestina. Atualmente, apenas 15,5% dos R$ 238 milhões desembolsados nas 73 operações do BNDES no País beneficiam microempreendedores do Nordeste. Isso representa R$ 37 milhões. Só o BNB, a partir do acordo, vai receber outros R$ 50 milhões, ampliando esse volume para quase R$ 90 milhões. O objetivo é incentivar ainda mais o tomador de pequenos financiamentos para a produtividade.

“Hoje, a região Sul representa 59,1% e o Sudeste, 23%. Este contrato com o Banco do Nordeste vai possibilitar que o Nordeste passe de 30%, ficando em segundo lugar no ranking de desembolsos por regiões do BNDES. O recurso já foi liberado”, afirmou, ontem, o gerente do Departamento de Economia Solidária da instituição financeira, Guilherme Montoro. Ele apresentou os dados do avanço na área de microfinanças no Seminário Internacional sobre o assunto, promovido pelo BNB, em Salvador. “Nossa ideia é continuar essa parceria nos próximos anos, ampliando essa oferta de acordo com a necessidade do Banco do Nordeste”, complementou.

Alerta ao mercado

Guilherme ainda fez um alerta sobre a possibilidade do efeito positivo da Indústria de Microcrédito Produtivo (IMP) ter um impacto contrário na vida do microempreendedor. “Temos que adotar ações de prevenção do superendividamento dos clientes. Estamos discutindo aqui a medição de desempenhos sociais pós-empréstimo. Isso é importante, mas também temos que fazer as análises adequadas de pré-financiamento”, disse.

Na mesma linha de pensamento, o outro representante do BNDES no evento, Paulo Roberto Monteiro, engrossou a necessidade de haver mais cautela tanto da parte das instituições que cedem quanto das pessoas que recebem o crédito. “No momento, há muita gente oferecendo dinheiro para o mesmo público. Isso pode ser perigoso para elevar o superendividamento e aumentar o nível de inadimplência”, destacou Paulo.

Na opinião dele, as instituições financeiras e as repassadoras de microfinanciamentos devem ser mais criteriosas em relação aos resultados. “A primeira preocupação é não querer resultados rápidos. No mundo todo, a política de microcrédito requer tempo para dar o resultado desejado. Se quiser velocidade, deve-se redobrar o controle dessas operações”, comentou, ressaltando, ainda, alguns indicadores para exercer esse monitoramento de forma satisfatória.

“Isso passa pelo governança, transparência, gestão, acompanhamento, e melhorar a regulação do microfinanciamento no Brasil, que é deficitária”, disse.

Monteiro acrescentou que apesar, dos bons resultados dos primeiros meses do programa Crescer, voltado para pessoas de baixa renda, faltou conversar com outros atores sociais e de desenvolvimento envolvidos nessa área.

“O governo chamou as instituições financeiras, mas esqueceu de conversar com outra entidades como as Oscips , cooperativas de crédito e Sociedade de Crédito ao Microempreendedor”, concluiu.

Peso

30% passará a ser a participação do Nordeste no total de desembolsos do BNDES por regiões, a partir do contrato firmado com o BNB

Transparência é fundamental

Salvador. Especialistas que estiveram no Seminário Internacional de Microfinanças do Banco do Nordeste (BNB), no segundo dia do evento, apontaram que o maior gargalo para o desenvolvimento do sistema de microcrédito é a falta de transparência das instituições que concedem ou repassam o recurso para os pequenos empreendedores.
No Brasil, apenas cinco instituições financeiras de 21 que mandam dados de saúde financeira reportam informações de desempenho social.

De acordo com o representante da Mix Market, uma das avaliadoras mais conceituadas do mercado, Renso Alejandro Martinez Ramirez, é um erro das instituições que concedem crédito pensar apenas na quantidade de clientes e desembolso no campo das microfinanças.

Análise da efetividade

“É preciso analisar a efetividade real desses empréstimos na transformação socioeconômica desse microempreendedores”, argumentou.

E mais: “apenas com essas informações completas é possível traçar caminhos para fortalecimento da prática no Brasil”, observou, reforçando que existe aí um forte obstáculo cultural. “É uma questão de mentalidade, que leva tempo e paciência para ser alterada”, disse.

Informação

Na opinião de outra especialista, a representante da Planet Finance, outra organização mundial que emite ratings de desempenho social, Maud Chalamet, mais do que a rejeição dos gestores em divulgar esses resultados, é a falta de informação que mais aflige a questão da transparência nesse segmento.

“Acredito que exista a vontade de transmitir essas informações, mas não se sabe como. Daí a importância de eventos como esse para explicar a todos esses agentes como é feito esse processo”, afirmou.

Exemplos mundiais

Para o analista sênior do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Sérgio Navajas, a experiência do Crediamigo e do Agroamigo, do BNB, são exemplos mundiais de como deve ser não só a transparência, mas também todo o arcabouço que rodeia o microfinanciamento.
Segundo ele, esse tipo específico de crédito é essencial para oferecer serviços bancários a um número maior de pessoas que precisam desse produto.

Porta de entrada

“O microcrédito é a porta de entrada dos serviços bancários. No mundo, 77% das pessoas não têm acesso a serviços financeiros. O microcrédito é um facilitador para essa abertura”, concluiu o especialista. (ISJ)

Fonte: Jornal Diário do Nordeste