Ceará é pioneiro na produção e exportação de biotecnologia

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O Ceará é conhecido por ser a Terra da Luz e também por ser uma região em que a estiagem é uma característica dominante. Mesmo nesse contexto, o Estado tem se destacado no País como o primeiro produtor e exportador de mudas clonadas, atividade que vem sendo desenvolvida pela empresa Bioclone, que, através de sua biofábrica localizada no município de Eusébio, atende a vários produtores do Estado, e do Brasil, com o fornecimento da biotecnologia aplicada à produção agrícola, tanto no cultivo direto ou produção irrigada.
“Somos a única empresa no Estado do Ceará e uma das mais modernas no Brasil”, destaca o sócio-diretor da Bioclone, Roberto Caracas. Segundo ele, são 50 colaboradores empregados diretamente na biofábrica, sendo que, entre mão de obra indireta, através de fornecedores e clientes, a empresa absorve mais de mil pessoas. A unidade fabril possui uma área de três mil metros quadrados e sua capacidade de produção anual é de cinco milhões de mudas – entre elas, banana, abacaxi e frutas tropicais.

Oportunidade
A ideia surgiu em 1998, quando o sócio-diretor da empresa, Roberto Caracas, conheceu mais de perto a tecnologia de clonagem da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), em Brasília (DF). Ao terminar o mestrado, ele trabalhou na Secretaria de Agricultura do Ceará, quando observou a falta de um marco legal para a produção de mudas no Estado. “Inclusive, ajudei a elaborar (o marco legal), não tendo nada estabelecido para o Estado, e sobre produção de mudas clonadas não existia nada”, destacou.
Foi a partir de então que Roberto viu uma oportunidade inédita. “Comecei a observar que grandes produtores de fruteiras estavam sendo atraídos – pois, nessa época, o Ceará estava atraindo investimentos –, vindo produtores mundiais. Diante disso, vi a necessidade de mudas, e que aqui não tinha biofábricas, não só no Ceará como também no Brasil, para que, de fato, pudessem atender tanto em volume como na frequência necessária que os projetos agrícolas necessitavam”, informou o executivo.
Em 2003, já trabalhando em outra empresa, Roberto atuou, na prática, com a montagem de, aproximadamente, 1,5 mil hectares (ha) de banana com mudas vindas da Costa Rica e Israel; outros 1,2 mil hectares destinados ao cultivo de abacaxi. Na época, ele viu um negócio que tem mercado, mas não tinha empresa habilitada para atender a esses produtores. Graças ao projeto de encubação da Embrapa, a ideia se desenvolveu, surgindo, então, a Bioclone, em 2008. “O próprio programa de encubação da Embrapa transferiu toda a tecnologia para a empresa e colaboradores, e nos baseamos nessa capacitação e com a estrutura que a Embrapa tinha, na época. No período em que ficamos lá, já comercializávamos mudas”, disse Roberto Caracas.

Mercado
“A gente tem bastante clientes fora do Estado”, pontuou Caracas, acrescentando que desses clientes tem partido a principal demanda. Isso, porque, com a estiagem no Ceará, a demanda local recuou. “Desde o ano passado os clientes daqui não compram quase nada da gente por ponta do problema da (falta de) água. A gente comercializa para todos os estados do País, e, inclusive, exporta também”, declarou. Entre os maiores clientes da Bioclone, os principais estão em Minas Gerais e Bahia. “São empresas e produtores. A maioria de nossos clientes, cerca de 80% deles, estão nos perímetros irrigados, e essa tecnologia da muda clonada contribui com a questão da irrigação, a fim de potencializar a produção”, ponderou.
Depois de constituído, o negócio vem registrado um crescimento de 30%. O empresário atribui o bom resultado à divulgação da empresa através da participação em feiras e eventos, e visitas a associações de fruticultores e horticultores. “As mudas de bananas são o carro-chefe, seguida por abacaxi, cana-de-açúcar e frutas tropicais”.

Estiagem e incentivos, principais desafios
A produção não se restringe apenas a um determinado estágio. Com isso, o portfólio das mudas clonadas oferecidas atende um leque diferenciado de clientes e valores. A banana, por exemplo, em seu primeiro estágio – chamado de raiz nua –, custa R$ 1,25. A muda pré-climatizada que depois de sair da biofábrica, vai para uma estufa, tem preço de R$ 1,70 e a muda pronta para ir ao campo, R$ 1,90. Mais informações podem ser obtidas através dos telefones (85)-99920-6871/3260-4929, pelo e-mail contato@bioclone.com.br ou no site oficial www.biclone.com.br.
“A questão da falta de água, que foge de nosso alcance, é uma dificuldade que afeta também o cliente”, enfatizou o sócio-diretor da Bioclone, Roberto Caracas. Diante dessa dificuldade, ele adianta que a empresa já procura ampliar nosso portfólio e desenvolver novas espécies, como mamão, cacau – embora essa possibilidade esteja em análise ainda. No entanto, para este ano, deverá ser iniciada a produção da palma forrageira, juntamente com o Governo do Estado. “Somos a única biofábrica privada do País e do Ceará a desenvolver essa tecnologia da muda clonada da palma forrageira, que ajuda ao pequeno produtor a passar por esse problema da seca”, pontuou.
O executivo mencionou, ainda, a falta de incentivos fiscais por parte do governo como desafio para o desenvolvimento das atividades. “A gente espera que ele [governo] ajude, pois estamos precisando. Geramos emprego e renda na região, mas até agora não tivemos nenhuma ajuda dele”, afirmou. “O que recebemos [de auxílio] quando estávamos encubados não foi uma ajuda, mas fomos beneficiados por um fundo de investimentos – que possui um capital do BNDES e BNB, através do sistema Criatec -, e, ainda encubado, o Criatec investiu e tornou-se sócio da empresa. Então, antes de a empresa concluir a fase de encubação, em 2012, ela passou a ser S/A [Sociedade Anônima]”, disse Caracas. Como houve investimento na contratação de pessoal, compra de insumos e equipamentos, durante a fase de encubação – que utilizou a estrutura da Embrapa -, “até hoje pagamos royalties para a Embrapa”, finalizou o executivo.

FONTE: O POVO